quarta-feira, 27 de abril de 2011

A ALICE ERRADA?


Estereótipos de TDAH

               Não sei quem vocês estão procurando mas até onde eu sei eu sou Alice, não preciso que ninguém me digam isso ou prove isso a mim. Fui muito questionada quando cheguei ao país das maravilhas se eu realmente seria a Alice certa pois a minha imagem era diferente das lembranças de seus habitantes. Eu tive um histórico de vida que eles desconhecem e agora eu sou adulta e elas me comparam a uma criança. Algumas pessoas têm uma idéia pré-estabelecida e equivocada sobre um tdah: pensam que todos eles são iguais e tentam encaixá-los em seus modelos imaginários. Acham que devem ser como aquele menino que corre em volta da casa sem parar, impossível de ser controlado , que sempre deixa um ventinho por onde passa, o estereótipo do Menino Maluquinho, personagem de Ziraldo. O que essas pessoas não pensam é que se ninguém é igual então porque pessoas que sofrem desse transtorno seriam ? Pelo que eu já li existem 3 tipos de tdah’s : o predominantemente desatento, o predominantemente hiperativo-impulsivo e o combinado, ou seja, apresenta a desatenção, hiperatividade-impulsão. Geralmente a maioria das mulheres apresenta o tipo predominantemente desatento e embora apresentem um certo grau de hiperatividade, não é o suficiente aos olhos de pessoas que se predem ao modelo estereotipado do menino maluquinho, sendo  mais difícil o seu diagnóstico. Inclusive até um tempo atrás , acreditava-se que o TDAH só existia em pessoas do sexo masculino. Foi o que aconteceu comigo, uma vez que , apesar de ser bastante impulsiva na minha infância , preferia mil vezes o meu mundinho secreto, vivendo as voltas no País das Maravilhas, onde poderia pintar rosas brancas com tinta vermelha e fugir de um exercito de cartas de baralho, o exército da Rainha Vermelha.  Assim, como todas as alices erradas recebi rótulos de mal-educada, preguiçosa, geniosa... ou perguntas do tipo : “você tem um cotoco(motorzinho) ?” , “ Porque você só estuda no final do ano?”, “Aonde você estava ? No mundo da Lua?”. Também tive bastante dificuldade na minha vida escolar, sempre passava nas provas finais pois só conseguia estudar sobre pressão. Quando criança , minha mãe era muito chamada à escola seja pelo meu comportamento impulsivo , seja pela minha desatenção e indisposição de fazer as tarefas que me eram propostas. Diziam as minhas professoras que eu era uma criança muito inteligente quando “queria” mas era bastante preguiçosa para estudar. Até eu mesma achava que deveria ser algum desvio de caráter porque sempre descumpria a mesma promessa que fazia a mim mesma no começo do ano : Vou estudar diariamente para não passar pelo sufoco do final do ano e organizar todos os meus cadernos. O que eu desconhecia é que a culpa não era minha e sim , de um coelho branco que corria pelo jardim apressado olhando para o relógio e fazia com que eu , ao ir atrás dele , caísse sempre no mesmo buraco.

domingo, 24 de abril de 2011

A AVASSALADORA PRIMAVERA

Os sentimentos a flôr da pele.
É estranho como frequentemente me acordo tão desprotegida. Me sinto tão carente , precisando que me abracem , que digam que me amam. Como se qualquer vento pudesse me levar embora em direção ao abismo e eu só pudesse me salvar pelo amor das pessoas. Volto a ter seis anos nessas horas, tão pequenina ou a procurar o abrigo quentinho do útero da minha mãe. Algo aflora em mim como a Primavera , rasgando por dentro , fazendo nascer as flores da minha sensibilidade , fazendo florescer as folhas que caíram no inverno. Mas não é  leveza que aparece nessa estação.É a dor do romper das folhas e flores nos galhos, suas feridas ardendo sob o sol tão microscópica que ninguém consegue ver nem sentir. Logo eu tão segura de mim (uma das minhas múltiplas personalidades) me vejo tão  avassaladora como a primavera. Muito leve e serena por fora mas dolorida pela mutação que a acompanha.Essa sensibilidade a flor da pele sempre acompanha um TDAH, a gente sente tanto tudo tão intensamente que poderíamos dizer que somos quase fenômenos da natureza : devastadores, sombrios , leves como uma brisa, controversos e quando realmente temos a chance de realizar alguma coisa , capazes de encantar o mundo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ALICE NO PAÍS DA BAGUNÇA

Bagunça : Uma característica bastante Tdah.
Bagunça. Essa é a minha palavra. Até me achava organizada há um tempo, mas me deparei com uma realidade muito curiosa a meu respeito. Acordo pela manhã, arrumo minha cama e me deparo com a bagunça da minha mesa... Nossa, não sei como consigo fazer isso sozinha. Deixo meu quarto organizado e saio pra trabalhar. No outro dia , faço a bagunça e começa tudo novamente...  No trabalho a mesma coisa. Uma vez reclamaram da minha bagunça, achei esquisito no momento, depois assumi pra mim mesma que isso era gritante quando comecei a observar o rastro de coisas que deixava por todos os lugares em que eu passava. Eu não me dava conta disso. Agora posso entender que tudo isso é conseqüência da minha hiperatividade, já que não consigo, ou pelo menos me esforço muito pra fazer uma coisa só. Vou fazendo algo, e muitas vezes antes de terminá-la já inicio outra coisa, ou quando acabo, antes que possa guardar as coisas que tirei do lugar para executar a tarefa, já vou fazendo a tarefa seguinte. Existe uma dificuldade do tdah de controlar seus impulsos, mas quando se o conhece é mais fácil de tentar contorná-lo e é o que tenho feito. O país das maravilhas  parece confuso, ainda bem que temos um gato sorridente que mesmo desaparecendo no ar, sempre nos indica um caminho que podemos seguir.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

ALICE ESTÁ SEMPRE GRANDE OU PEQUENA DEMAIS?

A difícil arte de se adaptar às mudanças.

Depois de seguir o coelho branco que seguia apressado olhando o relógio e cair num buraco enorme , vou parar numa sala cheia de portas e vejo uma chave na mesinha . Talvez essa chave possa abrir uma dessas portas... Tento sair mas a chave só abre uma das portas justamente a que é pequena demais para que eu possa passar por ela. Percebo que na mesa onde estão as chaves existe um frasco escrito : "beba-me". Penso que não há nada demais em bebe-lo pois é só mais um dos meus sonhos esquisitos. Após beber começo a encolher e fico bem pequena , e agora sim posso passar pela porta porém me dou conta que deixei a chave em cima daquela mesinha , e agora,  veja que atrapalhada , não alcanço mais a mesa pois estou pequena demais. Então encontro um doce escrito "coma-me" ... Será a solução ? Não custa nada tentar!!! Acertei na mosca ! Cresço tanto que posso até alcançar o teto.  Me abaixo , pego a chave e agora bebo mais um pouco daquele líquido que me faz encolher . É, depois de muitas tentativas deu certo, agora posso finalmente passar por aquela porta e sair dessa sala.Às vezes estou grande demais, às vezes minúscula. Nunca encontro o ponto exato nas mais diversas ocasiões. Sempre estou às voltas remoendo alguma besteira que disse, alguma coisa que errei por distração ou alguma coisa importante que teria que fazer. Nessas horas o meu perfeccionismo é o meu pior inimigo. Perco o tempo das coisas , muitas vezes, e quando me dou conta já passou . Isso com atitudes, palavras, deixo de fazer alguma coisa importante para alguém simplesmente porque não vi naquele momento que ela estava precisando, pois estava muito mais preocupada em não fazer besteira ou não piorar as coisas, e outras por estar distraída dentro de um balão, de uma nuvem, de um tapete alado... Já tive muitos problemas de relacionamento por conta disso. Por que elas entenderiam , se, às vezes , nem eu mesma entendo? Também tenho uma falta de noção espacial que chega a ser hilaria. Sempre estou esbarrando nas coisas, tropeçando, lenvando topadas (meus calçados que aguentam isso)... enfim , sinto-me como se eu tivesse três pernas e cinco braços, que mudam de forma e tamanho o tempo todo sem que eu tenha tempo de me adaptar a eles. Parece estranho para alguém que está de fora entender e enxergar quando isso acontece , quase sempre é estranho pra mim também mas hoje está sendo mais fácil porque sei que existem pessoas que sentem como eu , com todas as dificuldades de viver voando à mil por segundo, crescendo e diminuindo de tamanho por questões de horas. Sempre achei que havia algo diferente em mim, e acho que finalmente entendo o porquê. Juro que não preciso tomar líquidos nem comer doces que me dão ordens, não no mundo real .Quem me dera pudesse escolher o tamanho para cada ocasião, é por isso que o país das maravilhas muitas vezes parece bem melhor que o nosso.