quarta-feira, 4 de maio de 2016

SÓ POR HOJE EU QUERIA SER "NORMAL"

Oi. Eu sou Alice. Tenho um Transtorno chamado TDAH - Transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade. Descobri quando fazia uma tratamento para depressão. Não gosto de falar ou justificar para as pessoas sobre o Transtorno porque não gosto que sintam pena de mim, Muitas vezes , quando confesso , algumas dizem que não aparento ser hiperativa. Eu sei que a imagem que as pessoas têm de hiperativo como aquela pessoa inquieta que não pára num lugar e que balança as pernas. Eu não balanço as pernas , em vez disso eu procrastino, me saboto, choro escondida na cama que é lugar quente e nesse exato momento deveria ler um livro que foi indicado pelo meu professor a semana passada e que apenas li algumas páginas, e que será debatido amanhã. Hoje faltei aula de outro professor porque estava esgotada, simplesmente porque também fiz a leitura ontem e o trabalho hoje de manhã , antes de trabalhar e deixar minha mãe na rodoviária. Batalhei muito na seleção de mestrado e hoje estou paralisada com a que estar por vir ...peraí , vc falou mestrado? sim . Falei. Eu faço parte de uma minoria de pessoas que têm TDAH e conseguiram se graduar. Sempre fui aquela estudante fora dos padrões , que deixa as matérias para última hora. A minha vida escolar foi conturbada e cheia de dramas e improviso. Sempre consegui passar por uma suposta inteligência que só é acionada em momentos de urgência. Levei a graduação tocando flauta e fazendo juramentos que nunca cumpri. Hoje , trabalho na Universidade Federal da Paraíba , onde tive que deixar minha cidade natal , Recife, para morar em João Pessoa. Morava com minha mãe e meus irmãos , agora moro sozinha numa cidade agradável . Pelos incentivos de qualificação para aumentar o meu salário , que quase não me sustenta , decidi fazer mestrado mas não foi só isso. Tinha vontade de seguir a carreira acadêmica e me identifiquei com a Ciência da Informação. Também confesso que não tenho saco para estudar para concurso e como meu cargo é de nível fundamental , fazer um mestrado acadêmico pode me dar a possibilidade de ser professora da Universidade em que trabalho. Até chegar lá , para as pessoas "normais" têm muito sangue , suor e lágrimas . O que esperar de alguém que tem TDAH ? É o que vou descobrir. Não faz nem um mês que as aulas começaram e eu estou aqui, assustada, perdida, frustada com minhas reações de sempre e muito ansiosa. Esse monstrinho da ansiedade me corrói por dentro, como se existisse um dragão morando dentro de mim. As pessoas dizem que eu deveria estar feliz e eu sei que deveria mesmo, mas estou com muito medo de tudo. Será que é sempre isso : querer o que não tem e sofrer quando se consegue, por ter a sensação de que aquilo escorre entre os dedos ? Preciso de ajuda , estou cansada e amargurada, mas não vou colocar culpa no transtorno embora só por hoje gostaria de me sentir como uma pessoa "normal".

14 comentários:

  1. Alice, espero que já tenha passado esse seu sofrimento interno que eu senti ele quase que palpável, mas assim como você também tenho tdah e imagino que você já esteja muito melhor a não ser que tenha outro livro pra ler e esteja procrastinando, não te conheço mas já a admiro por ter chegado até ai *-* tenho certeza que logo isso tudo passa, não pare de escrever pra eu não me sentir tão sozinha. Obrigada!!!

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  2. Obrigada você pelas palavras. Estou me sentindo melhor , menos assustada mas não menos sobrecarregada. Na verdade , a inércia também me perturba bastante. acho que sou uma insatisfeita por natureza. Tô tentando pôr a leitura em dia no que é possível mas abandonar hábitos que me rodeiam desde sempre é quase impossível, talvez tenha que me adaptar a eles. Nem sempre eu tenho vontade de ser "normal" só nos dias de exaustão completa. Tenho que me aceitar como sou , o que não implica dizer que não precise mudar mas preciso descobrir uma maneira de diminuir os monstros que me afligem e seus danos.
    Um abraço. Alice.

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  3. Que bom que vc voltou Alice, passo pelas mesmas coisas que vc, tenho ansiedade e entro em depressao, nem eu me suporto,. Vou levando a vida procrastinando e so consigo me concentrar no trabalho por causa do Concerta, queria ser normal .

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    1. Somos normais do nosso modo mas não podemos ignorar o fato de termos um Transtorno. Tenho que voltar a tomar o Ritalina, até nisso eu procrastino, rs. Um abç.

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    2. Oi Alice os sentimentos que vc relatou eu já os tive, muitas vezes. Eu batalhava para conseguir um emprego em um escritório bacãna e quando era contratada, o medo de falhar me perseguia o tempo todo.
      Meus familiares me diziam pra deixar de ser tão insegura, pra enfrentar.
      Enfim, eu ainda não acreditava ser TDAH, não me medicava e tentava resolver tudo do meu jeito, sempre chorando sozinha no meu quarto, assim como vc descreveu.
      Não deixe esses pensamentos tomarem conta de vc, se conheça e utilize todas as armas que puder para alcançar seu objetivo.
      Não desista e parabéns.
      Estou na mesma jornada, tentando fazer o mesmo. Grande beijo

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    3. Preciso voltar a fazer terapia URGENTE. Os remédios não estão dando vencimento, assim vou virar um zumbi. rs. Boa sorte pra vc tb e tudo de bom
      Um abç, Alice.

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  4. Oi hoje recomecei meu tratamento pra TDAH. Decidi admitir e tratar.
    Adorei o blog vc escreve muito bem. parabéns.]prazer em conhecer. bjsss

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    1. Muito obrigada. Se cuide mesmo. Tem gente que acha que é frescura mas não é. Nós é que sabemos o que passamos. Admitir e procurar ajuda é p primeiro passo mas sempre teremos outros adiante. Força e boa sorte no seu tratamento. Um abç. Alice.

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  5. eu só agora as 33 anos q estou cursando a graduação e a duras penas inclusive é na ufpb. caramba como estudar é difícil pra nós. o bom é que me levou a tratar a tdah e agora espero mudanças.
    precisamos conversar, ri das notas limitações.

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    1. Muito, muito difícil. O pior é que tenho sempre a sensação de frustração, de que poderia ter feito melhor. Na maioria das vezes, faço as atividades na última hora, improviso diversas vezes e depois vem a culpa. É terrível. O jeito é tentar dar leveza a essas coisas , rir de nós mesma e sempre se perguntar : quem nunca?
      Estou disponível para conversar (no meu tempo, sei que às vezes demoro a responder e a escrever no Blog, já pedi desculpas várias vezes , mas acho que vcs mais do que ninguém entendem). Boa sorte na sua graduação. Um abç. Alice.

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  6. Parabéns, Alice por continuar vivendo, apensar do transtorno. Meu filho foi diagnosticado com esse transtorno e estou entre a cruz e a espada sobre medica-lo ou não. Vi que vc ficou um período sem o medicamento. Isso é possível? Digo, ter uma vida normal para quem tem o transtorno sem o medicamento? Já agradeço pela atenção, e parabéns mais uma vez guerreira!

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  7. Oi, essa questão da medicação é muito particular. Já vi relatos de pessoas que não se dão bem com a medicação. Depende muito de cada um, mas a terapia é sempre a melhor opção, com ou sem remédios. Definitivamente não sou um bom parâmetro para ser avaliado pois sou muito irregular e indisciplinada, e pela demora do diagnóstico desenvolvi algumas comorbidades, como a depressão. Parei de me tomar o ritalina por um tempo pq não é recomendado quando se está muito ansioso. Quanto a ter uma vida normal, não vou dizer que seja fácil viver com TDAH pois é um transtorno, a medicação pode ajudar mas não é uma pílula mágica. De qq forma, muitas pessoas conseguem sim ter uma vida "normal", com ou sem medicação mas é importante avaliar o qual o tratamento que melhor se adeque a ele. Desejo tudo de bom para vc e seu filho, o apoio e a compreensão das pessoas que amamos é muito importante.
    Obrigada pelas palavras de incentivo.
    Um abç, Alice.

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  8. Oi Alice!
    Você ainda trabalha na Universidade Federal da Paraíba?
    Gostaria de te conhecer e ouvir algumas de suas experiências de tratamento do TDAH. bem, creio que você deve estar fazendo algum tratamento.
    Eu tenho TDAH também e a minha vida ainda é uma bagunça~

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  9. Oi , Josiane . Trabalho sim. No momento só estou fazendo fazendo tratamento pra depressão mas preciso voltar a fazer terapia e atividade física. Se ainda tiver interesse, entre em contato comigo pelo meu e-mail : giselle.arantes.ufpb@gmail.com.
    Um forte abraço.

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